top of page

Vitor Estevão aip homenageado pela Associação de Imagem

  • Foto do escritor: Mário Melo Costa
    Mário Melo Costa
  • 15 de fev. de 2021
  • 5 min de leitura

Cabe este ano ao nosso membro nº 3 da Associação de Imagem ser o homenageado pelos seus pares com o prémio carreira e o título de membro honorário da aip. Não poderíamos estar mais satisfeitos e felizes pela oportunidade desta ocasião. Relembramos aqui que a Associação de Imagem em janeiro de 1998 numa célebre reunião, por iniciativa dos assistentes de imagem, que decorreu na sede do extinto sindicato no Príncipe Real, deu-se o início da fundação da Associação de Imagem. Entre uma esmagadora maioria de assistentes estava o diretor de fotografia Vítor Estevão que se aliou ao projeto da Associação logo na primeira hora, registando-se como o membro Nº3 e o primeiro diretor de fotografia a faze-lo, mantendo-se leal ao projeto desde sempre.

A sua participação e o seu contributo valorizou os primeiros anos de arranque da Associação que era de certa forma vista com algum ceticismo, já que o histórico de associações no setor sempre tinham sido efémeras. Vitor Estevão e depois outros diretores de fotografia também acreditaram e juntaram-se à associação.

Vítor Estevão nasceu em Luanda a 3 de Julho de 1952. A sua família regressou a Portugal em 1954 e estabeleceu-se em Lisboa. Em 1966 dá-se a sua primeira incursão na área. Estudava no curso industrial como se designava na altura uma das vertentes do ensino secundário e durante o dia trabalhava nas produções Perdigão Queiroga de quem foi assistente de imagem. Naquela altura as produções eram muito escassas. Limitavam-se praticamente à produção das reportagens dos «jornais de atualidades» apoiadas pelo regime da época. Estes pequenos apontamentos filmados, centradas nas iniciativas do governo do Estado Novo passavam nas salas de cinema antes do filme principal da sessão. Nessa tempo Vitor Estevão trabalhou com Moedas Miguel outro assistente de imagem conceituado na época e tinha uma ARRI IIC com o motor por baixo e com uma torel rotativa de 3 objetivas. Também mais ao menos na mesma altura trabalhou com uma Caméflex de obturador variável que pertencia à empresa Francisco Castro. Nesta empresa desenvolveu a sua atividade com mais intensidade e onde conheceu o Elso Roque, Manuel Costa e Silva, Antonio Escudeiro. Sobre este último Vitor recorda que foi «o meu mentor. Deu-me confiança. Passou-me a câmara para a mão. Deixava-me fazer os planos, operar a câmara e definir em muitos casos o diafragma. Outras vezes mandava-me sozinho fazer os planos, e dizia-me – 4 e 5.6 é o diafragma certo – e assim dava-me confiança nas minhas capacidades e fui acreditando e gostando cada vez mais» Para além disso o Vitor destaca outra faceta do António Escudeiro « era muito educado e justo. Fizemos um documentário durante um ano «A Ilha do Sol», sempre que nos alojávamos ele queria que todos ficassem as mesmas condições e ajudas de custo. Não fazia diferença entre os técnicos. Todos por igual e fazia disso uma questão».

Foi assim aos poucos com a confiança dada por António Escudeiro que Vitor Estevão foi a pouco e pouco ganhando a experiência e o documentário foi uma escola fantástica para se tornar operador de câmara. «mais ao menos entre 70 e 72 que se deu esta fase com o António e lembro-me também de conhecer a Teresa Ferreira da hetalonage na Ulisseia Filmes onde se revelava o preto e branco da Agfa e da Ilford que nós usávamos»

Também foi assistente de José Luís Carvalhosa « também em ensinou muito. Era super humano. Uma pessoa fabulosa. Foi com ele que se começou a delinear a cooperativa Cinequipa antes do 25 de Abril.» A produtora realizou vários documentários e já depois do 25 de abril trabalharam com Maria Antónia Palla jornalista (mãe do atual primeiro-ministro António Costa) responsável pelo programa «Impacto» que era constituído por várias peças documentais entre elas uma que deu enorme polémica que levou a equipa toda ao tribunal. Tratou-se do documentário «O Aborto Não é um Crime» https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-aborto-nao-e-um-crime-parte-i/ que foi para o ar na RTP em 1975. O documentário filmado pelo Vitor retratava o processo de um aborto realizado clandestinamente com uso de velas. « Foi tudo filmado e montado na peça. Causou grande polémica. Em tribunal Maria Antónia assumiu todas as responsabilidades ilibando toda a equipa. Assumiu tudo»

Vítor Estevão num bate papo com o saudoso Adão Gigante. Era sempre assim, falava-se muito com o Adão.

Chegou os anos 80 e o Vitor tentou a sua sorte em Espanha. Em Sevilha mais propriamente e aí fotografou algumas longas-metragens e spots publicitários. Diz «não aprendi nada», mesmo tendo rodado com nove realizadores que faziam parte da cooperativa em Sevilha «o bom foi que viajei por toda a Espanha». Ora lá ora cá Vitor foi desenvolvendo a sua atividade. Filmou documentários diversos entre eles «A epopeia dos Bacalhaus» realizado por Francisco Manso e produzido por Óscar Cruz em 1981 onde andou 6 meses num bacalhoeiro.

Estatueta do Vítor dedicada pelo maquinista Vasco Sequeira


Mais tarde abre-se a porta da publicidade nos anos 90. O setor começa a crescer em Portugal. Nessa altura as produtoras contratavam diretores de fotografia ingleses para filmar os spots publicitários dada a escassez e falta de diretores de fotografia vocacionados para a publicidade e o Vitor conta « não sei, souberam de alguma forma que trabalhava em Espanha e pensaram que eu era bom e contrataram-me. Fui ficando. Fiz muitos trabalhos para a Shots» a Shots hoje já não existe. Foi muto consagrada no anos 90 e inicio dos anos 2000. Em 2002 Vitor voltou a filmar em Espanha com um dos seus realizadores conhecidos o Xavier Bermudez «Luz Negra» foi o último que fotografou em Espanha.

Entretanto na publicidade o Vitor foi tendo muito sucesso até que um novo desfio e um novo rumo se atravessa. Nasce o projeto da TVI em 2002. Era preciso iluminar e equipar os estúdios para a estação . Tudo isso foi feito nos estúdios da Valentim de Carvalho desde raiz. Isso deu um grande know-how que o levou alguns anos mais tarde a ocupar o cargo de diretor técnico dos estúdios da SIC e dos programas onde hoje ainda se encontra.

Foi um longo percurso de vida. Testemunhou na primeira pessoa a evolução que Portugal teve no domínio da imagem. Ao mesmo tempo foi também ele aprendendo em primeira mão como lidar com os novos desafios e as novas técnicas. O Vitor lembra-se que a parte mais complicada foi quando chegou à publicidade « era muito mais exigente do que tudo o que tinha feito até ali. Tinha trabalhado no documentário/reportagem que é muito menos exigente» e sublinha « com o luís Branquinho na Panorâmica aprendi com ele muito do olhar estético e criativo da luz» Trabalharam juntos na Panorâmica 35 « com o João Rapazote foi também de aprendizagem fantástica , mas também de muita exigência e rigor. Andei com uma câmara às costas durante 18 anos a fazer documentários e quando chego à publicidade foi outra coisa.» e sobre Alberto Pimenta que homenageamos o ano passado Vítor diz «ajudou-me imenso na publicidade e não só, na passagem do analógico para o digital como ninguém».

O percurso de Vítor Estevão é exemplo vivo de como é preciso estar sempre atento às mudanças e a aprender a adaptar-se às novas tecnologias. A evolução de cada profissional depende do seu interesse em estar atento e aberto a novas descobertas. O Vitor que começa com a pequena ARRI IIC e que vem até aos dias de hoje a manipular e desenhar esquemas de luz em sistemas computadorizados demonstra o seu longo percurso evolutivo. É extraordinário como os tempos evoluem e mudam constantemente. Nunca se sabe tudo. Está-se sempre a aprender.

A Associação orgulha-se de ter o Vitor Estevão como seu membro honorário pelo seu percurso, pelo seu contributo à direção de fotografia em Portugal.



Este prémio é oferecido pela ARRI







Comments


Segue-nos
  • Facebook Social Icon
Notícias Recentes
Editor Tony Costa aip
bottom of page