top of page

Teresa Ferreira a Etalonadora do Cinema Português 1940-2023


É com tristeza que testemunhamos o desaparecimento de Teresa Ferreira nosso membro honorário desde 2006.

Ao longo da sua carreira nunca perdeu o interesse e a paixão pelo seu trabalho. Trabalhou em centenas de filmes e com tantos outros diretores de fotografia. Foi de uma devoção sem igual à fotografia de cada filme que etalonava. Etalonar, que adaptamos livremente do francês etalonnage (tradução para português calibração) é o termo com o qual identificamos o colorista que trabalhava em película. O processo era totalmente analógico através de uma máquina denominada Hazeltine onde o rolo de filme negativo passava por uma janela onde era atravessado por uma luz branca (5600º Kelvin). A máquina convertia a imagem de negativo em positivo e essa imagem por sua vez era mostrada através de um vidro amplificador semelhante a um ecrã de televisão. Era na análise desse «ecrã» que o etalonador trabalhava as cores e a intensidade de luz a dar ao filme.



Hazeltine a máquina que a Teresa trabalhava no laboratório Tobis que hoje é a sede do ICA.

Este era um trabalho minucioso que os etalonadores executavam diariamente para preparar as rushes/dailies para visionamento diário e também trabalhavam a cópia zero que seria a depois cópia master para se produzirem todas as outras cópias para distribuição.


A Teresa era especialmente talentosa na interpretação do negativo e nas dosagens a dar em cada cena e no trabalho de equilibrar plano com plano de forma a manter continuidade lumínica. Não importava quão difícil seria cada filme ou cada correção a Teresa encontrava sempre energia positiva e uma dedicação sem paralelo para resolver os problemas. Nem que se ficasse a ver à lupa cena a cena até se conseguir uma homogeneidade absoluta. Era muito exigente.


A Teresa era uma fervorosa profissional de grande competência na análise do negativo e nos tons e tonalidades de cor a aplicar a cada cena. O diretor de fotografia daria a instrução, mas a experiência e talento da Teresa traziam uma mais-valia à imagem. A verdade que se diga, só mesmo ela e colegas da área conseguiam interpretar aquela imagem que a hazeltine oferecia. Não tem absolutamente nada a ver com o sistema de trabalho que hoje existe para a correção de cor.



É raro e difícil encontrar uma personalidade que seja ao mesmo tempo tão devota à sua profissão e tão dedicada ao trabalho das imagens do diretor de fotografia como o foi Teresa Ferreira ao longo dos seus quase, quase 50 anos de carreira. Nunca a vimos vacilar.


O contributo de Teresa Ferreira para a imagem dos diretores de fotografia é imensurável e fica na história da direção de fotografia como uma profissional exigente e de uma mulher com verdadeira paixão pela cor.


Felizmente quer a Associação de Imagem (2006) com o prémio honorário e a Academia Portuguesa de Cinema, (2017) com o prémio Bárbara Virgínia, prestaram-lhe em devido tempo, as homenagens que tanto mereceu.




Há uma pequena vídeo biografia sobre a Teresa Ferreira que se pode ver neste link https://vimeo.com/249935891


Carreira

Teresa Ferreira nasceu em Lisboa em 1940.

Iniciou a sua carreira profissional, ainda durante o curso na Escola de Artes decorativas António Arroio em 1958 integrando o Laboratório da Tobis.

Mas em 1960 foi contactada pelo engenheiro Gil para que fizesse parte de um novo projeto de Laboratório para Portugal, mais bem equipado que então a Tobis. Aceitou o desafio de integrar a Ulysseia Filme. Facto esse, que lhe permitiu estar próxima do cinema novo português que desponta nos anos sessenta.


Na formação específica da sua área faz dois estágios ao estrangeiro. Em Dassonville, Bruxelas em 1961 e no laboratório Eclair em Paris 1967.


Em 1979, por causa da falta de trabalho, motivado pelo período difícil que a Ulysseia Filme estava a atravessar, muda de novo para a Tobis. Já neste seu novo emprego, com o objetivo de enriquecer os seus conhecimentos, vai estagiar para o laboratório Telecipro em Paris 1980 e visita algumas fábricas de equipamento

Etalonadora por opção, Teresa Ferreira completou 48 anos de carreira dedicada ao cinema e às fitas portuguesas. Dezenas e dezenas de diretores de fotografia de várias gerações com ela partilharam sombra e luz, cores e planos na execução da cópia zero.































Segue-nos
  • Facebook Social Icon
Notícias Recentes
bottom of page