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PRÉMIO FERNANDO COSTA para Manuel Vide

  • Foto do escritor: Mário Melo Costa
    Mário Melo Costa
  • 8 de mar. de 2022
  • 4 min de leitura

O grupista Manuel Vide é este ano o feliz contemplado para receber o prestigioso prémio Fernando Costa. Todos os anos a Associação e a Cinemate juntam-se para reconhecer uma personalidade que ao longo da sua carreira prestigiou a sua profissão. Uma personalidade cuja função nunca chega aos palcos para receber prémios, mas sim um técnico que tenha dedicado a vida a trabalhar nos bastidores dos filmes. São essas as personalidades que todos os anos a Cinemate e a Associação de Imagem procuram reconhecer e acarinhar por tudo o que fizeram/fazem pelos filmes. Os seus nomes encontram-se no final da lista de créditos quando o público já saiu ou que a televisão simplesmente corta para meter um anúncio.

Os filmes são feitos por profissionais que se dedicam com corpo e alma ao ofício e não importa como. Mesmo em qualquer cargo que se ocupe, cada um e cada qual dá-lhe uma importância vital e dirão com orgulho «se não fosse eu este filme não se fazia…» é comum nas conversas entre colegas, quando se chega ao fim do dia de trabalho e se sente que houve uma missão bem cumprida. Pode soar a exagero, mas é verdade. Em muitas circunstâncias a diligência, a grande motivação pessoal de cada um dá sentido de responsabilidade e de profissionalismo E Manuel Vide não foi diferente a ter essa vivência. Ele também como outros teve momentos críticos «um dia vi-me aflito. Era o desfile de Carnaval na Figueira da Foz. Fez-se a distribuição da corrente com normalidade, mas os projetores não acendiam. O gerador não conseguia fornecer os 220 V necessários. Dei voltas e mais voltas e não conseguia entender qual era o problema até que descobri que era a correia do alternador. O parafuso partiu-se e foi uma bronca, o desfile ia arrancar e seria necessário luz para filmar. Com os nervos em franja dei por mim a usar uma cinta, dessas de aperto, normais que os maquinistas usam, apertei à volta e assim consegui pôr o alternador a girar na velocidade certa. Tive o coração nas mãos o tempo todo, mas safamo-nos» e terminaria com certeza a contar esta história nos tempos seguintes dizendo «e se não fosse eu!…». Sem a corrente produzida pelo gerador não haveria filmagens e isso seria catastrófico. Igualmente numa outra circunstância, porém menos grave, mas chata na mesma, uma distribuição de corrente errada (… há eletricistas que não fazem a distribuição adequada da potência pelos cabos) rebentou com o disjuntor e na savana não há fusíveis, então com um cabo descarnado improvisou-se um fusível e com cuidadinho não se abusou na intensidade.


O prémio em si tem consigo na alma este espírito de missão que foi induzido e cultivado por Fernando Costa «Ele ralhava muito com o pessoal, mas o gordo era boa pessoa», sim, chamavam-lhe candidamente o gordo. «ralhava para ensinar, orientar, era necessário, há pessoal que não tem cuidado com as coisas».


Manuel Vide nasceu em Lisboa no dia 25 de junho de 1942. Não conheceu a segunda guerra mundial porque quando acabou tinha apenas três anos, mas apanhou outra mesmo na flor dos seus 20 anos de idade. A guerra do ultramar. Serviu em Angola entre 63 a 65. Trouxe poucos traumas da Guerra. Ultrapassou-os com a vivência e com o trabalho. Do trabalho tem boas recordações. Sempre gostou. Tem uma vaga ideia de como começou como grupista. Sabe que se iniciou nos filmes como assistente de imagem a fazer filmes de animação num estúdio no último andar de um prédio na Alexandre Herculano. O estúdio era do grande diretor de fotografia Aquilino Mendes. Tinha 17 anos. Já depois da guerra encontrou-se com o Fernando Costa no Tipiki. Restaurante no Lumiar onde a equipa da Lisboa Filmes e da Tobis se encontravam. O Fernando Costa disse-lhe que tinha um trabalho para o dia seguinte e necessitava de alguém para o manobrar o gerador


Nos estúdios da Cinemate com Fernando Costa à direita e de costas está o Vitó.

de 25Kva’s e foi aí que tudo começou fazendo uma carreira na posição. «… tratou-me sempre bem, muito bem aliás, nunca tive qualquer problema, tínhamos uma perfeita relação.» diz Manuel Vide sobre Fernando Costa. A não ser nos dias das patuscadas nos estúdios de Loures em que os petiscos do Manuel competiam com a cantina dos estúdios. O Manuel Vide para além de grupista tem grande aptidão para cozinhar e pelos vistos com muito sucesso. Nos Açores num filme do Manoel de Oliveira acabou a substituir o catering porque até o realizador e a Irene Papas vinham aos seus petiscos e nos estúdios da Cinemate o braseiro do Manuel Vide tirava a clientela do restaurante do estúdio ao qual o Fernando torcia o nariz.


É no reconhecimento destas homens humildes, trabalhadores e dedicados que existe o prémio Fernando Costa. Invocando outros tempos, outras vivências de homens ligados pela mesma profissão e paixão pelo trabalho e pela vida. Entregar o prémio a Manuel Vide é dar corpo a esse tempo que já não volta, mas eterniza-lo na memória do nosso cinema.


Manuel Vide em 1963, a despedir-se da familia, momentos antes de embarcar para Angola em serviço militar

Com uma Beaulieu nos tempos da revolução e à sua frente no tripé uma ARRI II C

Com António Escudeiro aip, já falecido a rodar um documentário para a RTP.
Com uma ARRI IIC preparada para filmar e ao fundo pode-se reconhecer o jornalista da RTP Luís Pereira de Sousa.






 
 
 

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Editor Tony Costa aip
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