Os Conselhos da Noite", com direção de fotografia de Manuel Pinto Barros.
- Mário Melo Costa
- 13 de set. de 2020
- 3 min de leitura

Estreia a 17 de SETEMBRO, NAS SALAS NACIONAIS, a longa-metragem "Os Conselhos da Noite", realizada por José Oliveira e produzida pela The Stone and The Plot de Daniel Pereira.
Conheço o José Oliveira desde os tempos da nossa formação académica, tendo já colaborado em diversos projectos seus, o que nos permite comunicar de forma quase natural.
"Os Conselhos da Noite" foi rodado em 13 dias, quase inteiramente em Braga.
O tempo de rodagem era curto, por isso dedicou-se algum tempo à pré-produção, de modo a que a rodagem fosse executada com rigor nessa janela de tempo.
Visitámos algumas localizações mais do que uma vez, e as ideias que o José Oliveira tinha eram bastante concretas, o que facilitou todo o trabalho visual e dramático.
"Os Conselhos da Noite" é a viagem de regresso (despedida) de Roberto à cidade de Braga, onde nasceu e de onde partiu há 15 anos. Assim, tal como a personagem, fomos descobrindo a cidade e os seus espaços. Se em alguns locais tinha o completo controlo e conhecimento, noutros descubri-os tal e qual a personagem, embora pessoalmente já conhecesse muito bem grande parte da cidade de Braga.
A narrativa desenvolve-se totalmente em redor da personagem, que está presente em todas as cenas. Assim, a construção visual foi feita também nessa perspectiva. Em conversa com o José Oliveira fui percebendo que cada espaço deveria ser tratado de forma dramática, mas sem perder a essência do local e a sua realidade, isto porque a cidade de Braga era também uma personagem, ou a razão de uma "viagem".
Procurei, portanto, intervir pouco em cada décor, mantendo-me fiel à realidade de cada espaço e da cidade, principalmente em cenas nocturnas.
As noites, preferi que fossem quentes, quase fogo, pois era o "espaço dramático" onde a personagem encontrava novas razões para renascer e mais conforto. Os dias, por oposição, um pouco mais frios e em alguns momentos menos luminosos, pois era o "espaço dramático" em que a personagem se sentia menos confortável. Roberto é um noctívago, por assim dizer, que encontra na noite o seu porto de abrigo.
Em termos técnicos, "Os Conselhos da Noite" foi capturado em Sony A7s2 + Shogun em gimbal Ronin, com objectivas Zeiss Cp2 filtradas por 1/4 promist e 1/2 promist, de forma a suavizar a imagem e a criar um visual mais "turvo", principalmente de noite. A escolha deveu-se ao facto de termos um tempo de rodagem curto, maioritariamente de noite, e também por não querer intervir em demasia no espaço nocturno da cidade. A Sony A7s2 permitiu trabalhar com valores de ISO mais altos, o que permitiu também manter níveis de diafragma de f4 a f5.6, de forma a termos alguma profundidade de campo para que o espaço em redor fosse visível. Sendo a cidade uma personagem também, pareceu-me a escolha acertada. Também o uso de grandes angulares permitiu criar um confronto de dimensões da personagem com o espaço.
A portabilidade foi muito importante para a execução do projeto, dentro das necessidades de produção, até porque em alguns momentos estávamos a filmar em pleno centro de Braga, sem condicionamento. A rapidez e a dimensão dos equipamentos e equipa permitia passarmos discretamente na realidade envolvente.
Embora tenhamos tido algumas cenas com figuração controlada, a cena mais desafiante foi um plano em acompanhamento lateral da personagem, num local onde se encontravam centenas de jovens diante de seis bares. Era incontrolável o "background", com praxes a decorrerem, era impraticável montar qualquer tipo de iluminação. Teríamos que ser altamente discretos e coordenados. A mobilidade e a possibilidade de ter um câmara sensível permitiram executar este plano, sendo imprescindível o trabalho da equipa de produção, que discretamente, e quase camuflada, conseguiu controlar esta figuração incontrolável, abrindo caminho para actor e câmara.
Foi um projecto extremamente complexo quer a nível estético quer de produção, mas o esforço e cooperação de toda a equipa permitiram que superássemos os desafios que se atravessaram.
Para terminar, capturar Braga e esta personagem (brilhantemente interpretada por Tiago Aldeia) foi um real prazer. De forma resumida, foi ver Braga pelos olhos desta personagem numa caminhada de descoberta, foi olhar Braga pelos seus olhos, mas respeitando a Braga de quem lá vive e a conhece, luminosa e secreta, mas também obscura e elegante.
Teaser: https://youtu.be/UTIeB5fQ_as
Trailer: https://youtu.be/u5OodVvmcSI
Manuel Pinto Barros
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