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Nuno Ferreira Homenageado aip.


O que seria do diretor de fotografia sem a leal colaboração do seu primeiro assistente de imagem? Quem tomaria conta de todas as objetivas? Cabos? Tripés? Das condições de funcionamento da câmara? Do registo de Imagem? E por fim ainda garantir que tudo está focado? Só o 1º assistente de imagem em quem o DF deposita toda a sua confiança na garantia da qualidade de imagem.

E quem melhor representa estas qualidades nos dias de hoje? Quem é que a Associação de Imagem escolheria entre tantos e bons assistentes de imagem que hoje estão no ativo para ser o recipiente do Prémio AIP? A escolha só poderia recair em Nuno Ferreira, o nosso mais veterano assistente de imagem no ativo e a escolha foi de uma unanimidade estrondosa.


Nuno ferreira reúne as melhores qualidades que um assistente de imagem pode ter. Tem larga experiência no domínio técnico, transmite tranquilidade e confiança. Para além destas qualidades é de uma grande lealdade para com o Diretor de Fotografia com quem está a trabalhar.

Este ano a aip decidiu homenagear o 1º assistente de Imagem Nuno Ferreira com o prémio honorífico da Associação de Imagem. É um singelo reconhecimento da nossa parte para assinalar um profissional que muito respeitamos.


É um singelo reconhecimento da nossa parte para assinalar um profissional que muito respeitamos.


O Nuno Ferreira nasceu em Lisboa em 1966 e desde muito novo teve contacto com a fotografia. Juntamente com o irmão revelou na banheira da casa de banho de casa rolos de fotografia tiradas com a câmara Pentax SP1000. Ao contrário do desejo da família que ambicionava para ele que seguisse também o curso de direito, o Nuno acabou por iniciar a sua vida adulta a trabalhar como banqueiro depois do serviço militar aos 23 anos. Apesar da aparente estabilidade material que o posto lhe garantia, não era porém isso que o Nuno ambicionava. Tudo fez para seguir outro caminho. Ele queria era trabalhar com câmaras e de cinema especialmente. E conseguiu. Chegou à produtora Bambú através do diretor criativo Eduardo Homem. Foi na Bambú que conheceu Francisco Graça, realizador/diretor de fotografia, com quem muito aprendeu. Nos anos 90 a produtora Bambú era uma das mais profícuas empresas no mercado publicitário ao lado da Costa do castelo de Paulo Trancoso.



O processo de trabalho era diferente maquela época. As produtoras possuíam as câmaras e o equipamento básico para filmar. Os assistentes eram empregados da produtora que tomavam conta do equipamento e acompanhavam-no nas filmagens, por vezes eram produções internas e outras de produtoras externas a quem a era alugado os equipamentos. Em qualquer das circunstâncias eram os assistentes residentes da casa que trabalhavam com o equipamento. Era o que acontecia com o Henrique Serra na Bambú a quem o Nuno Ferreira dava assistência e o Zé Tiago na mesma altura na Costa do Castelo. Todas tinham câmaras ARRI III e a Costa do Castelo tinha também uma ARRI BL4 que permitia captar som direto. Eram outros tempos.


«Tinha-se que esperar pela morte do DF para o resto da equipa subir na hierarquia»


Para subir na carreira era um cabo dos trabalhos «Tinha-se que esperar pela morte do DF para o resto da equipa subir na hierarquia» começa por dizer Nuno «Só subi a 1º assistente de imagem depois do Henrique subir a DF» e acrescenta «apesar de muitos hoje saírem das escolas e lançarem-se logo como DF’s sem passar pelo parte de assistente são muito poucos. Naquela altura era mesmo impossível não fazer o percurso do assistenato»



Os tempos foram mudando. As exigências e a concorrência foi-se alargando. As empresas estrangeiras foram surgindo a pouco e pouco. António da Cunha Telles implementou a Animatógrafo/Videocine e também uma outra mentalidade. Os técnicos seriam freelancers profissionais que eram contratados pelas produtoras e trouxe maior diversidade de equipamento por exigência e imposição das produtoras estrangeiras, nomeadamente as francesas. Numa década tudo mudou e o Nuno também tentou, mas noutra área através dos filmes. Numa das muitas saídas de Portugal para trabalhar, Nuno Ferreira conheceu a Guiné-Bissau. Com o desenrolar das circunstâncias teve oportunidade de abrir uns negócios que a revolução local em 1997 lhe destruiu, causando um enorme prejuízo material e financeiro. Tinha uma discoteca e um clube de pesca. Voltou a Portugal e de novo regressou às lides da imagem.



Há mais de 30 anos que Nuno Ferreira lida com câmaras de filmar. Durante esses anos teve de atravessar a revolução digital. A transição do analógico para o digital não foi uma fase fácil «muita gente não acompanhou o digital e deixou-se ficar para trás, mesmo gente nova ter-se-ia adaptado com um pouco de esforço e dedicação» e acrescenta com um misto de admiração e respeito «Tiro o chapéu ao Acácio de Almeida que continua a evoluir. Não pára. Admiro o Acácio» ressalva Nuno.


«Tiro o chapéu ao Acácio de Almeida que continua a evoluir. Não pára. Admiro o Acácio»


A revolução digital veio trazer outra atitude perante o trabalho segundo Nuno Ferreira «perdeu-se o respeito pelo equipamento. Deixou de haver regras. A metodologia de trabalho desmembrou-se. O DF não tem tempo para o seu trabalho, não se fazem ensaios, há barulho no plateau, perdeu-se o rigor» lamenta Nuno Ferreira. «Por vezes falo destas coisas às pessoas mais novas, mas elas não compreendem como era no tempo do analógico, onde o medo de falhar era grande e o rigor obrigava-nos a ser mesmo profissionais» para acrescentar «agora estão agarrados a um monitor com um pano preto em cima sem estar ao lado do DF para lhe dar apoio. Não respeitam os atores que precisam de se concentrar e estão sempre a falar…. Que falta de respeito»



Relembra os ensinamentos que teve de Francisco Graça, João Rapazote quando com eles trabalhou, pela postura, rigor e profissionalismo que lhe transmitiram e o formaram como profissional hoje.

O Assistente de Imagem não pode ser reduzido a um mero focador de imagens. É contribuir verdadeiramente para os filmes. Temos de dar apoio ao DF e ao realizador. «Para mim o que de melhor retiro de cada trabalho é o sentimento de ter contribuído ativamente para o filme» para de seguida explicar «o Primeiro Assistente tem que ter leitura do filme, estar com atenção ao que se passa, ouvir o realizador, ouvir o DF para se poder preparar e antecipar cada plano. Ajudar nos pormenores, observar e não estar no Instagram a postar fotos»


«Para mim o que de melhor retiro de cada trabalho é o sentimento de ter contribuído ativamente para o filme»


Tal como muitos profissionais, Nuno Ferreira foi ficando com a eterna paixão pela profissão. Houve outras tentações, a de bancário, os negócios em África mas nem as crises de falta de trabalho e a precariedade o demoveram de seguir a sua real paixão o cinema. «Nos dias de maior aperto, temos a família que nos dá aquele amparo e respaldo e nos dá força aguentar até à próxima crise» sublinha para de seguida acrescentar « um dia perguntaram-me se me saísse o Euromilhões o que faria? E eu respondi que comprava equipamento para mim para melhor desempenhar o meu trabalho»

Tony Costa aip



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