Menção honrosa «A Metamorfose dos Pássaros» para Paulo Menezes aip

A título excecional a Associação de Imagem atribui este ano durante a cerimónia de entrega dos prémios AIPCINEMA- Melhor direção de fotografia - a Paulo Menezes aip pelo seu trabalho no filme documental «A Metamorfose dos Pássaros» realizado por Catarina Vasconcelos.

A razão desta exceção prende-se em particular pela extraordinária estética fotográfica adaptada ao filme. O resultado fotográfico e a estética compositiva contribuíram grandemente para o seu sucesso internacional. O filme já recebeu mais de uma dezena de prémios um pouco por todo o mundo e certamente o contributo da fotografia foi um fator importante.

Há também uma segunda razão para abrir esta exceção que tem a ver com o facto de já ser o segundo ano consecutivo sem número suficiente número de obras para abrir o concurso, mas também pela forte razão da importância que se reveste na direção de fotografia para qualquer género cinematográfico incluindo o documentário. É neste particular que assenta em parte a decisão da direção de ter aberto uma exceção e dar a menção honrosa ao Paulo Menezes aip.

Com esta menção honrosa a associação de Imagem gostaria de dar um sinal para o futuro. Sabemos como o documentário tem de certa forma dispensado a direção de fotografia optando muitas vezes de ser o próprio realizador a ocupar-se desse lado e descurando em parte o valor ou a importância que a fotografia tem na construção de uma obra. Em particular a aplicação de ambientes necessários para a narrativa. Por outro a aplicação de aspetos técnicos que são fundamentais para dar corpo e profissionalismo à obra muitas vezes necessários.

Com esta menção honrosa a este filme a associação de imagem usa como exemplo para sublinhar aos produtores e realizadores a importância da direção de fotografia no género documental que tem sido em certa forma negligenciado depois da revolução digital

Estivemos à conversa com Paulo Menezes aip sobre a obra e falamos logo de inicio sobre a estética aplicada.

1 - Como foi abordar um documentário e aplicar um estilo tão marcado, fora da caixa, com planos elaborados, enquadrados esteticamente para um documentário?

Paulo Menezes – A Catarina tinha muitas ideias. Ela é formada nas Belas Artes e também esse background. Ambos adoramos pintura e eu em especial a pintura renascentista. Pode parecer cliché estarmos a referir que as grandes referências foram as pinturas, mas foi a melhor maneira de abordar e chegar à visão da realizadora.

2 – Filmar em 16mm foi também uma escolha arrojada.

Paulo Menezes – Sim, claro, especialmente para uma produção com poucos meios tínhamos que ser muito rigorosos. Nós iniciamos o processo de filmagem em 2016, imagina, levou 4 anos, a filmar em dias soltos, tínhamos que planear tudo muito minuciosamente e só filmar quando estávamos mesmo prontos e satisfeitos com o quadro. O uso do 16mm veio não só ao encontro do ambiente que se pretendia para os anos 60 em especial, mas uma grande vontade da realizadora em aplicar este formato. Ela frequentou um curso em Inglaterra na London Film School onde realizou um filme sozinha em super8 e ficou ligada à textura da pelicula. Por isso a escolha de 16mm apesar das condicionantes de laboratório, telecinema como se sabe. Por outro lado no ponto de vista estético e narrativo o 16mm leva-nos para uma outra dimensão mais intimista. A película leva-nos para outro tempo. A Catarina trabalhou muito bem, criou um dossier com imagens onde trabalhou a estética de imagem e composição que pretendia. Foi muito útil para criar e desenvolver a imagem em movimento. É um trabalho importante, é excelente trabalhar com alguém com sentido estético visual para a imagem. Isso dá um conforto e uma motivação especial para criar as nossas imagens.

3 – E a parte técnica como foi?

Paulo Menezes – Comecei por usar uma Bolex e depois uma Aaton. A maior aventura foi atravessar o Atlântico desde os Açores a Lisboa no navio-escola Sagres a trabalhar completamente sozinho com a câmara. Carregar magazins, montar objetivas o Comandante assim que me viu entrar com dezenas de caixas para o navio achou que estávamos loucos, pensava que era só uma camerazita e tal…. Risos…. O laboratório que usamos é o CineLab na Roménia. Utilizamos este laboratório há algum tempo. Para um outro filme «O Taxi do Jack» também me recorri à Roménia.

4 – Ganhou muitos prémios mas agora é o primeiro pela fotografia, reconhecia pelos teus pares….

Paulo Menezes – Agradeço claro aos colegas por esta honra, mas o filme é um documentário e geralmente os festivais e amostras de documentário não atribuem prémios à fotografia e até me parece lógico, sem falsa modéstia, que este menção honrosa sirva também para outros realizadores e produtores que estejam a planear produzir os seus documentários tenham em linha de conta que a imagem é muito importante para os filme documental como para qualquer outro género. Vejam-se por exemplo os filmes de TV que antigamente descuravam a imagem e agora há um cuidado muito particular e com isso os filmes ganharam muito, e com este documentário que ganhou até agora imensos prémios, estou seguro que a imagem tem um papel relevante nesse resultado.