«Terra Nova» em sala
- Mário Melo Costa
- 28 de out. de 2021
- 3 min de leitura

* Repomos aqui o artigo publicado em Março de 2020 sobre o filme.
Terra Nova é um filme escrito e dirigido por Artur Ribeiro inspirado livremente em dois contos de Bernardo Santareno; “O Lugre” e “Nos Mares do Fim”.
O enredo segue uma viagem de um Lugre, o Terra Nova por mares do Canadá e da Gronelândia na pesca do bacalhau e decorre no ano de 1937. O drama desenvolve-se quando o Capitão se apercebe que a pesca é miúda nos mares do Canadá e resolve dirigir em direção á Gronelândia onde nunca antes os Portugueses pescaram. Começa um conflito entre a sabedoria do Capitão e os mitos dos pescadores que acham que na Gronelândia serão tramados pelo mar Ártico desencadeando um motim a bordo.
Filmamos a bordo do Lugre Santa Maria Manuela, quinze dias em mares da Noruega mais 3 em Portugal a simular o Ártico, outros quatro dias em estúdio onde a direção de arte construiu de forma brilhante o “rancho” (onde os pescadores comiam e dormiam) em cima de um sistema de pêndulo para simular o balanço do navio e três dias no interior do Lugre Crioula para fazer os interiores da Messe dos Oficiais.

Um dos maiores desafios deste projeto, foi de como transmitir a ideia de desconforto que é a vida a bordo no alto mar e de passar meses numa superfície que constantemente oscila em baixo dos nossos pés e fora do nosso controlo. Como usar a câmara da melhor maneira a passar essa sensação?
Depois de alguns testes e visionamento de filmes já feitos, optamos pela câmara à mão durante toda a peça tanto em alto mar como em estúdio. No Crioula onde filmamos, que se encontrava atracado em doca, e por isso não oscilava, adicionamos à câmara à mão um oscilar horizontal.
A única exceção foi quando passávamos para o Semi-Rígido de apoio para filmar barco para barco onde na maioria dos planos optamos por colocar a Câmara no sistema Gimble.
A Câmara usada foi uma Alexa Mini, com lentes Cooke S4i no formato 2.39 esférico captado em Arri Raw.
A bordo do Lugre só numa cena usamos luz artificial, de resto filmamos sempre com luz natural, e fomos abençoados pela bela luz do hemisfério norte. Mas como não há bela sem senão, uma das maiores dificuldades com que deparei e mediante os moldes propostos para tornar exequível o mapa de trabalho ambicioso e tão bem regido pelo João Roque, Assistente de Realização, foi o da continuidade de luz, cena a cena. Nada de novo para quem se dispõe a fazer um filme num barco no topo do hemisfério norte.

A produção foi da Cinemate e da produtora Ana Costa, que carregou às costas este projeto de corpo e alma, e a quem só tenho de agradecer por ter insistido que ele tinha mesmo de ser filmado no circulo polar Ártico, ou perto, e essa decisão entre tantas outras coisas proporcionou que o filme tivesse uma luz que para além de ser muito bonita fosse verdadeira à história. Claramente diferente da luz que se conseguiria imprimir aqui na nossa latitude. Sente-se e vê-se.
Ter filmado com o Artur Ribeiro foi uma lição, pois como realizador que também assina a escrita, conhece o enredo e seus personagens como ninguém. Para além disso, e dada a sua vasta experiência com atores, juntos desenvolvemos uma tática de filmar a que apelidamos de “Camera Bulling” onde fazíamos um primeiro ensaio com os atores todos, e normalmente havia muitos em cena, e dávamos a liberdade total para que eles se movimentassem por onde quisessem e depois decidíamos quem seguir em cada take, e com a câmara á mão. Eu me inseria no meio da ação como se a câmara e eu fossemos um dos personagens, trazendo alguma orgânica bruta e genuína à decoupage.
A chefia da equipa técnica coube a David Vasquez como Focus Puller, Pedro Paiva como Gaffer e Tiago Caires como Grip. Muito colaboraram para o sucesso da empreitada que foi fisicamente muito exigente, pois filmar em barcos obriga a uma capacidade de adaptação às circunstâncias náuticas e climáticas fora do normal.
A correção de cor foi feita em Berlim na Cine Chromatix com o Tobi que fez um excelente trabalho. Neste filme em particular resolvi desenvolver uma LUT para me acompanhar na rodagem e a qual fui alterando ligeiramente durante o processo e depois enviei para o Tobi e ele fez uma primeira abordagem a partir da mesma, mas também trouxe uma proposta que não fugindo muito da minha ideia, só veio melhorar a cor do filme.
A estreia está marcada para 19 de Março.
Luis Branquinho aip Fevereiro 2020

Tromso- Noruega Latitute Norte 69.6492 onde embarcamos no S.M.Manuela

Artur Ribeiro e eu

Tiago Caires e o Gimble





FRAMES DO FILME




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