Bem Bom – Fotografia de João de Botelho
- Mário Melo Costa
- 1 de jul. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de jul. de 2021

Foram várias as datas prevista para a estreia de «Bem Bom», mas dada as restrições veio a ser sucessivamente a sofrer adiamentos à semelhança de outros títulos que aguardam melhores dias para sem apresentar em sala. Finalmente aparece em sala no mês de Julho, filme fotografado pelo nosso membro João de Botelho.
Bem Bom retrata a história da girl band icónica dos anos 80 - Doce. Em 1979 quatro jovens são contratadas para formar uma girls band. Rapidamente se tornam um fenómeno de popularidade em Portugal. Com coreografias e temas que se tornaram imortalizados por várias gerações, surge agora o filme que aprofunda a sua história e percurso.
Qual foi a abordagem estética inicial que tiveste com a realizadora? Mesmo antes de conheceres a real do orçamento?
- A Patrícia foi muito recetiva desde o princípio no que toca à estética do filme. A confiança que depositou na minha visão e gosto fotográfico foi sem dúvida uma enorme e boa surpresa. Com algumas imagens e conceitos-chave foi-me dando a entender como gostaria que as Doce fossem retratadas. Tudo resto foi desenvolvido em conversas e com referências a filmes que ambos havíamos visto. Não posso dizer que o orçamento não tenha afetado algumas das decisões criativas mas certamente que ultrapassaríamos qualquer circunstância para realizar este filme. Aliás, foi dessa drive e química que partilhamos que provavelmente nasceu tudo aquilo que são as imagens do Bem Bom. Inesquecível.
Como te adaptaste ao orçamento para chegar a uma imagem de época?
- Eu queria muito ter feito o filme em super 16mm. Por razões óbvias e várias. Infelizmente não foi possível e então partimos para um sensor digital com vidro mais antigo de características mais acentuadas. Escolhi a Alexa Mini + Canon 25-120 K35 pelo peso associado à qualidade da imagem que me levou a escolher a alexa mini como a câmara principal na realização deste filme. Tivesse sido isto apenas para televisão e não cinema, acho que optaria por filmar tudo em HD. Controverso eu sei, mas o grão do crop no sensor é algo que me agrada bastante. A lente foi um escolha lógica dada a sua versatilidade. Fiz alguns testes antes de fazer a escolha final. Para ser honesto tenho filmado tanto em película que começo a ter dificuldades com o aumento gradual de megapixels e de tamanho nos sensores. Assim decidi filmar em 2k com uma lente zoom antiga e com capacidades macro. Esta versatilidade foi sem dúvida a chave para a minha escolha final.
O uso do vidro foi bem aceite pela produção, tiveste alguns constrangimentos em usar depois de terem visto o resultado?
- Nada. A Produção do filme foi super respeitosa das minhas escolhas.
Tens alguma experiência de trabalhar no estrangeiro nomeadamente na Dinamarca e agora um pouco por cá, como sentes as diferenças?
- Trabalhar em Portugal é sempre um prazer. Honestamente espero que seja esse o percurso natural da minha carreira. Não penso como muitos diretores de fotografia com quem converso, que trabalhar lá fora é o sinal de reconhecimento e a melhor forma de fazer filmes melhores. Acredito que o melhor filme é aquele que nos traz o maior prazer. Seja ele feito cá ou na Escandinávia. Depois de ter tido oportunidade de trabalhar em quase todos os continentes do mundo ainda acho que Portugal tem os melhores locais e das melhores equipas com quem trabalhei.
Como diretor de fotografia que comentas sobre trabalhar sobre orçamentos tão apertados?
- Os orçamentos são uma responsabilidade que por vezes pesa demasiado no produto final. Os melhores filmes que fiz (ou pelo menos dos que tirei mais prazer) tiveram curiosamente orçamentos bastante reduzidos. Agora, acho que deve haver um limite olímpico e responsável que deve ser respeitado por todos os profissionais da indústria.
Fazer uma longa-metragem e daí sacar para uma série televisiva achas que tem influência no trabalho do DF? Não obriga a uma menor preparação estética já que é preciso filmar demasiados minutos diariamente?
- Esta foi provavelmente a maior dificuldade que encontrei com o Bem Bom. A minutagem foi diariamente um bocado mais elevada o que resulta por vezes num cansaço excessivo de toda a equipa. Todos têm de trabalhar mais rápido e assertivamente, mesmo ao fim de seis semanas que foi o tempo total de rodagem. Pessoalmente dizer que por vezes não senti ter o tempo que precisava para polir determinados planos, mas vá, isso também faz parte da experiência e deve ser visto mais como uma oportunidade do que como um problema.
コメント