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Abel Ribeiro Chaves- Mérito Profissional - Associação de Imagem

  • Foto do escritor: Mário Melo Costa
    Mário Melo Costa
  • 6 de mar. de 2022
  • 5 min de leitura


A Associação de Imagem decidiu este ano reconhecer uma personalidade incontornável da nossa indústria. Trata-se Abel Ribeiro Chaves do Bazar do Vídeo.


A Associação de Imagem não poderia ignorar o papel de Abel Ribeiro Chaves tem desempenhado no panorama audiovisual português. Não pode também dissociá-lo como figura importante no cinema português por não se identificar com aquilo que se entende por normalidade. A sua postura no meio não é clássica e até um pouco ortodoxa, se fizermos um ponto de comparação. A sua forma de estar não recai no tradicional produtor de cinema como conhecemos. Explicando melhor, ser produtor como Abel Ribeiro Chaves que conjuga a sua atividade comercial da loja e a de produtor de filmes como Pedro Costa, João Dias, Tiago Pereira, entre outros e mais recentemente Pedro Cabeleira de «Verão Danado», não recai na típica tipologia de produtor e cinema como normalmente identificamos. Esta postura define em muito o seu carácter e a sua abnegação e em muito a sua originalidade empreendedora.

Aliado a esta vertente de comerciante e de produtor, Abel Ribeiro Chaves tem tido ao longo dos anos, mais de 35 com a loja «Bazar do Vídeo», tem tido uma permanente preocupação na formação. Prova disso as dezenas de workshops que organiza, onde a componente de aprendizagem é ponto fulcral da sua ação. Todas estas componentes do seu dia a dia são apanágio da seu carácter sempre na procura do melhor. Fá-lo com temeridade e paixão com a sua equipa que o acompanha há longos anos.



Para além do seu manifesto interesse em dar formação tem sido uma formador ele próprio e os seus colaboradores a tempo inteiro. Ao balcão da loja, a fornecer equipamento a principiantes, orientação técnica na escolha do equipamento adequado, apoio às escolas, o Bazar do Vídeo tem marcado diversas gerações. Destaca-se o realizador Pedro Costa, conheceram-se em meados dos anos oitenta e com quem iniciou uma colaboração muito próxima, que passou a ser o seu produtor a partir do filme «Ne Change Rien» (2009) fortalecendo essa relação desde então. Encontraram-se pela primeira vez quando Pedro Costa foi assistente de realização do primeiro filme de Joaquim Leitão «De Uma Vez por Todas» (1987). Um outro, o realizador Edgar Pêra por quem Abel nutre uma especial admiração pelo facto deste ser também um aventureiro tecnológico, não tanto em atividades económicas, mas pelo facto de Edgar Pêra ser um apaixonado por inovar, e inovar com a tecnologia, ser no fundo um inventor a partir da tecnologia. O que se depreende perfeitamente para quem conhece a obra de Edgar Pêra.

Muitos outros passaram, uns com mais assiduidade outros mais esporadicamente, mas muitos ou mesmo todos os profissionais do audiovisual e do cinema passaram pelo Bazar do Vídeo e conheceram Abel Ribeiro Chaves.

Personalidade multifacetada, empreendedor a arriscar sempre à beira do abismo. Fazendo-o sempre, de forma enérgica. É por essa paixão e entrega aos projetos que por vezes tem um postura rude e agressiva para quem ainda não conhece. Precisa de conhecer as pessoas para se dar com elas e se entregar. Precisa de saber se elas também são importantes para a fraternidade de classe, e profissional para depois se tornar uma pessoa colaborativa.


O seu projeto de vida tem sido pautado por enormes tombos e de enormes recuperações. Essa sua capacidade de recuperar e de renascer das cinzas são características notáveis que se encontram no seu caráter. Investiu e trabalhou sem descanso num projeto de teatro que só lhe deu prejuízo, teve de fechar a loja original no cinema Xenon para reabrir noutro sítio sem a mesma visibilidade, mas isso não o travou de ter ideias novas para relançar o seu negócio. Recuperou ideias antigas como o cartão cliente, o denominado «cartão clube bazar do vídeo», recuperou ações de formação como apresentações e palestras e mesmo com um exíguo espaço, refez-se de novo vindo das cinzas. Não olhou para a sua atividade como sendo uma única e exclusivamente mercantilista.


Desenvolveu uma mística da casa, criou uma equipa que segue os passos, falando com as pessoas, ajudando com um microfone aqui ou acolá, uma câmara ou um tripé para viabilizar o projeto, muitas vezes um sonho efervescente de um jovem. Acompanha-las nesse sonho, e ajudá-los a materializar essa vontade é a mística que Abel Chaves tem tido como objetivo de vida. Essa bondade interior que não se revela no trato direto por vezes duro e rude mas esconde no interior uma vontade eterna de fazer bem.


Ao longo de mais de 35 anos o Bazar do Vídeo e Abel Ribeiro Chaves atravessou toda a evolução tecnológica e viu como o vídeo se foi afastando cada vez mais de ser apenas para amadores e semiprofissionais, evoluindo a pouco e pouco até atingir patamares agora conhecidos. Foi pioneiro da aplicação do formato vídeo em longa-metragem através de Pedro Costa que utilizou uma câmara Panasonic de 3CCD e gravar em cassetes mini-Dv no filme «Quarto de Vanda» (2000). É aqui que se dá os primeiros passos para a revolução digital.


As aventuras de produtor iniciam-se com curta-metragem «Lua Azul» em 2001, seguindo-se outros projetos como o documentário «Genesis Cascais 75» acontecimento relevante para a época em virtude do período revolucionário que se vivia, os Genesis passaram pelo pavilhão de Cascais onde deram um memorável concerto. O documentário tinha imagens do concerto, mas não tinha direitos sobre o som das músicas, mas por sorte houve alguém que gravou clandestinamente o concerto e forneceu esse som e foi assim que foi montado.


O bichinho de produtor fica e segue a seguir o documentário «Operações SAAL» que aborda a construção solidária de casas de habitação depois do 25 de abril. A apresentação do filme no cinema S. Jorge foi um momento memorável na sua vida pessoal, perante um cinema repleto de gente.


Não vai parar, vai continuar a apoiar aquela pessoa que se chega ao seu balcão carregado de sonhos de querer fazer um filme. E Abel Ribeiro Chaves e a sua equipa estão lá para alimentar ainda mais esse sonho.


É no reconhecimento desta personalidade que a Associação de Imagem lhe atribui o prémio de Mérito Profissional. Pelo que tem feito ao longo de décadas pelos jovens sonhadores que um dia desejam ser diretores de fotografia ou realizadores e que foram um dia ao Bazar do Vídeo. Ir ao Bazar do Vídeo é como um muçulmano que tem de ir a Meca pelo menos uma vez na vida. Pois um cineasta tem que ir pelo menos uma vez na vida ao Bazar do Video.

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Primeiro documentário que Abel Ribeiro Chaves produziu. Foi também um trabalho nos extremos. Sem direitos para pagar a música do concerto, a solução veio de onde menos se esperava. Não havendo imagens gravadas recorreu-se ao fotógrafo oficial da banda Robert Ellis. Um espetador gravou o concerto com um gravador portátil e daí se fez um documentário que marca um volte-face na sociedade portuguesa. No dia do concerto, o jornal ‘A Capital´ escrevia na primeira página “A CIA planeia golpe de estado até ao final do mês”. O documentário foi produzido no âmbito «Projeto Memória 30 anos» na sequência veio um outro «As Operações SAAL».


Com João Dias como realizador Abel Ribeiro Chaves como produtor recorda aquele momento como sendo o mais «impetuoso da sua vida» que foi abrir a Trienal de Arquitetura perante um cinema S. Jorge repleto de gente quem nem um ovo. «Nervoso, estava quase a chorar, foi a minha primeira longa-metragem como produtor, foi incrível, indescritível» disse.


A incursão na produção de ficção iniciou-se com uma curta-metragem. «Lua Azul» A realização coube ao jovem Hugo Diogo aluno da então escola “OpenSpace Studio” - unidade de formação do Bazar do Vídeo - com grandes ideias e energia que cativou de tal forma Abel Ribeiro Chaves, que acedeu produzir o projeto. E foi assim que tudo começou. Foi visto em vários festivais e teve estreia no Fantasporto e aqui uma foto do festival com Mário Dorminsky, diretor do festival.


Uma das suas aventuras tecnológicas e comerciais foi a Videonics em 1991. O aparelho era capaz de montar a partir de cassetes VHS. Uma inovação estrondosa naquela época quando os filmes se imaginavam apenas montados em pelicula.

Os atores Rui Furtado e Filipe Ferrer mostraram-se muito interessados com a inovação.









Grande impulsionador de feiras da indústria. Participou em várias e ajudou a organizar outras, a partir dos anos 90 até aos dias de hoje. O seu stand estava sempre a abarrotar de gente curiosa com as inovações, a criatividade e energia impostas nas apresentações.



O Bazar do Vídeo também publicou um jornal para dar informação técnica e não só, também para divulgar as suas ações de formação.

Com o realizador Pedro Costa, a atriz Vitalina Varela e restante equipa na apresentação do filme «Vitalina Varela» no Festival de Locarno, onde foi reconhecido com vários prémios, entre eles Melhor Filme, Melhor Actriz. O filme recebeu para Leonardo Simões o prémio de Melhor Direção de fotografia da AIP.

O encontro com Tony Costa na exposição CINEC em Munique em 2005 no stand da P+S Technik onde se pode ver uma câmara da Canon equipada com um adaptador para objetivas PL, tudo para ter um look de cinema.

A vitrine de prémios que exibe com orgulho na loja, que funciona nas traseiras do antigo Café Palladium na Rua da Glória.

Muitas campanhas feitas em colaboração com o cartoonista Augusto Cid, foi também uma experiência importante para Abel Ribeiro Chaves.

















Na loja «Bazar do Vídeo» rodeado de cassetes de vídeo no espaço comercial do cinema Xenon na Praça dos Restauradores, onde tudo começou como um videoclube.




Momento alto da carreira de produtor quando recebe o prémio ARRI para Melhor Filme Estrangeiro no Festival de Cinema em Munique com o filme «Cavalo Dinheiro» em 2015.

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Editor Tony Costa aip
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