Editorial
- Mário Melo Costa
- 8 de abr. de 2020
- 3 min de leitura
Não é demais sublinhar e repetir que a atual situação socioeconómica é preocupante para a totalidade dos profissionais de cinema. Reconhece-se o esforço que o governo tem feito para mitigar a brusca redução de rendimento de todos os profissionais. Muito em particular aqueles que têm famílias a sustentar e compromissos para cumprir. Vale em certa medida os esforços da administração central em evitar despedimentos, moratórias de pagamento de rendas e prestações bancárias e até uma linha de apoio para os recibos verdes que se saúda apesar de ser muito curto. Há uns anos a esta parte o recibo verde era um apátrida totalmente desvinculado deste tipo de apoios sociais mas felizmente neste momento vemos finalmente ser reconhecido uma condição há muito pedida e reivindicada pelos profissionais. Há também uma outra novidade. Os empresários em nome individual, enquadramento fiscal que muitos dos nossos colegas se insere, tem também apoio na mesma medida como os recibos verdes. Uma novidade que também se aplaude. Factos que eram totalmente vedados há muito pouco tempo. Acrescente-se as linhas de crédito abertas para as empresas e a garantia da manutenção dos apoios e dos compromissos do ICA para com as produtoras. Facto promissor para encarar o futuro com um pouco mais de otimismo quando se processar a retoma à atividade. Situação que pode eventualmente permitir arrancar as rodagens o mais rapidamente possível.
Depois da pandemia começa a preocupação do dia seguinte. Não só a questão económica que levará o seu tempo a retomar como as medidas de contingência têm de se manter até se obter uma possível vacina. E, com que regras vamos proceder no plateau para cumprir com as medidas de proteção de contágio dos profissionais? São passos que inevitavelmente temos que dar nos próximos tempos. Vamos ter de utilizar máscaras faciais? Viseiras protetoras? Muito certamente as equipas têm de tomar medidas de higienização mais frequente, desinfetantes no plateau e outras formas nomeadamente a proteção dos mais velhos como se sabe mais vulneráveis à doença. Acresce ainda a necessidade de ter um número reduzido de pessoas no estúdio, ou rodar num local interior. E se se dá um caso positivo na equipa? Todos os restantes têm obrigatoriamente que entrar em quarentena. Como vai o produtor resistir à paragem? Muitos fatores que estarão certamente em jogo de qualquer filme. O dia seguinte terá um impacto significativo como uma nova vida. Um recomeço, uma mudança de hábitos que serão certamente difíceis de alterar.
Para além deste aspeto também é a hora de aplicar regras em defesa do ambiente nos plateaus do país. Menos desperdício de energia, menos uso de plástico e adotar metodologias de boas práticas ambientais no plateau nacional.
Este momento dramático que estamos a passar vai deixar seguramente marcas que nos obriga a tomar novos rumos e diferentes estratégias de vida. O vírus veio demonstrar a fragilidade em que a nossa sociedade está assente. Alicerçada numa economia que dura pouco para fazer face à sobrevivência natural da vida. Três, quatro semanas de paragem colocam o mundo em sobressalto. O vírus veio provar como o ser humano está a abusar dos seus recursos do planeta e o poluí diariamente. O vírus também veio provar que não é preciso viver num frenesim de trabalho e que devemos ter tempo para nós e para os mais próximos. O vírus também veio provar o que que é realmente essencial para a sustentação da vida. Há muitas lições a tirar desta crise só o tempo consolidará e história registará.
Pouco ou nada podemos fazer a não ser entregarmo-nos a cuidado dos médicos e aos cientistas que procuram contra o tempo descobrir a vacina. Resta-nos apenas prestar a nossa humilde homenagem e gratidão a médicos, enfermeiros, pessoal hospitalar, bombeiros e outros por estarem na linha da frente a arriscar a sua vida para salvar de outros.
Tony Costa
Presidente aip
LINK da notícia – Apoio a Recibos Verdes e a Empresários em nome individual
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