«Gato Preto» Filme de Arte - Melhor Direção de Fotografia William Sossai
- Mário Melo Costa
- 7 de mar. de 2020
- 3 min de leitura
Este ano o prémio para a Melhor Fotografia de «Arte e Ensaio» foi entregue a William Sossai pelo seu trabalho em «Black Cat» Falamos com ele sobre o projeto. https://vimeo.com/393204021/ce74c93e62
1) Como veio você a ser o DF deste filme? Minha história neste filme começa numa conversa com o realizador e produtor Thales Banzai que falou sobre a vontade de filmar em 16mm a cidade de São Paulo a partir da perspectiva de um gato de rua. Já havia colaborado com o Thales em diversos projetos mas nunca havíamos filmado em película juntos. Portanto, quando tivemos a certeza que seria possível usar o suporte fotoquímico, decidimos levar o projeto adiante porque era evidente para nós que seria a forma mais honesta e genuína de filmá-lo. 2) A escolha do preto e branco teve como base o quê? Filmar o Gato Preto em P&B estava na génese de tudo porque fazia parte de um conceito estético e narrativo. O centro de São Paulo onde filmamos é cinzento, poluído e degenerado. Foi daí que surgiu a decisão de usar o negativo preto e branco Double-X 7222 da Kodak. Queríamos grão, textura, sujidade e ausência de cor para retratar um ambiente urbano hostil e seus habitantes marginalizados. Inclusive, praticamente todo o casting era composto por não atores, muitas vezes retratados no seu próprio ambiente. Por isso, não nos fazia sentido usar um suporte digital, asséptico e desprovido de imprevistos. Por não haver laboratório de revelação de película cinematográfica no Brasil, foi inviável fazer testes com a câmara Aaton XTR 16mm usada nas filmagens. Estávamos conscientes que era uma decisão arriscada do ponto de vista técnico, mas artisticamente estávamos seguros que todo tipo de “defeito” seria valioso para a composição estética da imagem. 3) Que tipo de trabalho é este que você candidatou como filme de arte e ensaio e não noutra categoria, por exemplo curta metragem? De facto, este filme poderia estar inscrito em outras categorias, até mesmo porque foi criado para a marca OUS de street wear e olhando por esse lado, poderia inclusive ser uma publicidade. Porém, vejo-o como um ensaio ou filme de arte porque a linguagem final distancia-se da narrativa convencional dos spots publicitários. Esse filme nasceu da premissa de criar um paralelo entre o skater e o gato preto de rua. Ambos transitam pela cidade, ocupam espaços públicos e se cruzam com outros personagens do cotidiano urbano. A inspiração surgiu a partir de um texto do rapper brasileiro Rodrigo Ogi e para compor o universo lúdico e visual do filme, integrou-se à equipa o artista plástico Lucas Mariano. Ou seja, trata-se de um projeto áudio-visual repleto de subjetividade, com muitos elementos simbólicos que têm em comum a crítica social e a desobediência civil. 4) conte algo mais que não sabemos deste seu trabalho. Antes das filmagens fiz uma extensa pesquisa sobre filtros de câmera que poderiam ser usados em fotografia P&B. Neste processo ainda consultei outros diretores de fotografia como o Acácio de Almeida e o Kaká que me deram dicas valiosas. Inclusive, adorava ter usado um filtro IR raro da Tiffen #87 que encontrei numa casa de aluguer em São Paulo, mas infelizmente não cheguei a utilizá-lo porque não foi possível testá-lo. Em quase todos os planos diurnos, usei uma combinação entre Polarizador e a série de vermelhos 23A, #25 e #29. Para minha sorte, a meteorologia ajudou e foi possível tirar partido dos filtros imprimindo céus bastante dramáticos com ultra contraste nas imagens. Uma dica importante para quem for filmar em película fora de Portugal e tiver que viajar de avião transportando material foto-sensível é solicitar junto à entidade aeronáutica ANAC a isenção do raio-X. Recentemente a Kodak divulgou um comunicado confirmando a tese de que os equipamentos de raio-x dos aeroportos são efetivamente prejudiciais à película. Outro trabalho de pesquisa relevante para este trabalho foi o de encontrar laboratórios que ainda revelassem o Double-X. Por questões de logística e orçamento, decidimos fazer o processamento químico e o scanner das seis latas que filmamos no laboratório COLORLAB em Washington, DC.
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