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HERDADE, fotografia de João Lança Morais aip

  • Foto do escritor: Mário Melo Costa
    Mário Melo Costa
  • 1 de set. de 2019
  • 5 min de leitura

Com estreia marcada nas salas portugueses neste mês de setembro, o filme de Tiago Guedes, «A herdade» fotografado pelo nosso membro João lança Morais aip, a avaliar pelas reações criticas em festivais internacionais, está a levantar grandes expectativas. O filme segundo a sinopse aborda «A saga de uma família proprietária de um dos maiores latifúndios da Europa, na margem sul do rio Tejo, fazendo o retrato da vida histórica, política, social e financeira de Portugal, dos anos 40, atravessando a Revolução do 25 de Abril e até aos dias de hoje». É neste contexto narrativo que atravessa diversas décadas que assentamos a nossa conversa com o diretor de fotografia João Lança Morais entre amigos o Janeko.

1 - Como abordaste com o realizador a questão do tempo no filme? Já que se desenrola ao longo de vários anos. Pensaram nalgum esquema temporal, dar uma imagem temporal?

Foi uma das questões que mais falamos. Se conseguiríamos passar cada época na captação ou se por outro lado teríamos de nos apoiar muito na correção de cor e pós produção. Acho que acabamos por fazer ambas consoante os meios que tínhamos à disposição. Sendo um filme que atravessa várias décadas era preciso vincar essas diferenças. Sendo um filme com meios limitados acabamos naturalmente por utilizar a direção de arte e guarda roupa a nosso favor e reforçar essa diferença na correção de cor.

O filme é a saga de uma família que atravessa três décadas e que acaba completamente desfeita emocionalmente e financeiramente. Naturalmente a história fica cada vez mais dramática com o passar do tempo e para nós a reação natural foi marcar essa evolução com uma luz também ela mais contrastada, mais densa. Sabíamos que teríamos de marcar alguma diferença na imagem em cada uma delas. Uma vez mais tivemos de ser criativos nessa abordagem e tirar partido da correção de cor para nos ajudar a marcar melhor cada época sobretudo os anos 50 sem nunca cair no excesso de correção de cor. Onde tiramos mais partido dessa correcção até foi nos muito braves anos 50, depois nas décadas de 70 e 90 a própria direcção de arte, guarda roupa e caracterização foram sempre a melhor forma de vincar melhor cada época.

2 - Nas decisões relativamente à posição de câmara e movimentos como abordaram as decisões? Foi em conjunto?

Foi uma mistura. O Tiago muitas vezes é muito preciso naquilo que quer filmar. A cena do baile é um bom exemplo em que o Tiago quis sempre que fosse um plano sequência que dura 8 minutos, com muita movimentação de atores de câmara onde todos, atores e equipa tinham de estar super focados para correr bem. Noutras situações construímos os dois em cima do texto e no que para nós fizesse sentido que fosse a posição de câmara. De uma maneira geral e quando não sabíamos exatamente como iriamos cobrir uma cena, tentávamos estar no décor antes de toda a gente, ler a cena e esperar pelos atores para o ensaio e em cima disso posicionávamos a câmara.

3 – Que câmara e objetivas escolheste? E Porquê?

Inicialmente queríamos filmar em formato anamórfico porque o filme é de certa forma épico no sentido em que atravessa várias décadas e é um formato que nos ajudava a passar a grandeza e imensidão do Alentejo. É um formato panorâmico e que se adapta bem a paisagens. Como a dado altura não conseguimos ter as lentes que queríamos decidimos manter o formato de relação de aspeto anamórfico. Por isso na realidade fizemos um crop na imagem. A câmara foi a Alexa Mini porque é super versátil e sabíamos que íamos precisar de nos adaptar a situações inesperadas como limitações de espaço e técnicas como o uso de steadicam. As lentes que usamos foram as Cooke S4 porque sabia que teríamos sempre limitações na captação e na forma de iluminar os espaços. O principio foi sempre iluminar com pouco e com contraste e as Cooke penso que nos ajudaram de certa maneira a atenuar esse contraste na captação. Chegados à correção de cor quisemos quase sempre voltar a puxar pelo contraste original de captura.

4 – Como planeaste a fotografia para o filme?

De todas as referencias fotográficas e filmes que vimos houve umas que sobressaíram mais, o trabalho do fotógrafo Artur Pastor (https://arturpastor.tumblr.com/), a saga de o «O Padrinho» 1972 pelos ambientes e pela abordagem ao claro escuro. Muitos filmes do Paul Thomas Anderson e filmes mais antigos como o "Home from the Hill" 1960 que foi a referencia base para todo este filme, quer dramaturgicamente, quer em termos de realização ou abordagem de câmara. É um grande filme que nunca teria visto se não fosse «A Herdade». O processo de preparar um filme é talvez das melhores partes, porque é onde tudo é possível e onde são vários os caminhos que podemos escolher. Pode chegar a um momento de abstração criativa onde tudo é questionado. Depois de falar com o Tiago e com o Paulo e logo pelo inicio, a intuição dizia-nos que tinha de ser um filme escuro, contrastado dramático e acho que isso foi determinante também na fase de pesquisa. Vimos muitos documentários dessas décadas sendo o maior deles «A Torre Bela» que se passa em 1977 e que é acerca da ocupação de uma das maiores propriedades de Portugal à época. Está no youtube livre acesso https://www.youtube.com/watch?v=L6OiWT38gvk, vale a pena ver. Fizemos também pesquisa do trabalho de fotógrafos como Saul Leiter e outros fotógrafos da Magnum. A preparação é um processo de estudo que é maravilhoso porque descobrimos e aprendemos. É muito bom.

5 – O que é que te correu particularmente bem que possas mencionar?

O fazer mais com menos. O facto de termos algumas limitações obriga-nos a ser mais criativos e isso é desafiante e é nestas alturas em que temos de arranjar soluções na rodagem ou na répèrage que as discussões servem para conhecermos melhor a equipa. Uma coisa que tenho aprendido é que não adianta lutar contra uma dificuldade quando ás vezes a podemos usar em nosso favor. Ás vezes os resultados dessa adaptação surpreendem no bom sentido. Lembro-me da cena da noite do 25 de abril onde sabíamos que tínhamos pouco tempo, ia ser noite e íamos estar muito longe de Lisboa por razões de logística dos carros militares, os meios também não eram enormes e tivemos de nos adaptar e tirar partido da própria coluna de carros militares que se cruzava com o carro do casal protagonista e foram as luzes desses carros que iluminaram grande parte dessa cena. de outra forma era impossível iluminar um exterior noite daquela dimensão.

6 - O que é que te correu menos bem no filme que não foi o que esperavas?

O facto de termos filmado nos meses de junho e julho e contarmos com tempo seco e quente e no primeiro dia de rodagem que é a apresentação do território da herdade fomos surpreendidos por uma chuva miudinha constante o dia todo e um céu tempestuoso. Se calhar até foi uma bênção (risos)

7- Quem foi a tua equipa?

Foi uma equipa maravilha e do melhor que se pode ter, pela entrega e pela forma constante com que se dedicaram a este filme. Não foi fácil em alguns momentos. Foi uma equipa de pessoas com muita experiencia em cinema e que também me ajudaram muito ao longo de toda a rodagem. Quando estamos a preparar a forma de atacar a luz de uma cena ou décor aprendemos muito durante essa troca de ideias e experiencias que cada um trás de outros projetos e das suas experiencias de vida.

Assistente de câmara: Iana Ferreira, Leonor Coelho Joana.

Chefe eletricista - Hélder Loureiro, Tiago Loureiro

Maquinistas Carlos Melo, Alexandre silva e Eduardo carvalho

Steadicam e gimbal - Eberhard Schedl

Correção de cor: Kino - Rita Lamas

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Editor Tony Costa aip
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