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«Variações» - Entrevista a André Szankowski aip AFC

  • Foto do escritor: Mário Melo Costa
    Mário Melo Costa
  • 27 de ago. de 2019
  • 4 min de leitura

A propósito da estreia do aguardado filme «Variações» realizado por João Maia tivemos uma pequena conversa com o autor que assina a fotografia o nosso associado André Szankowski o qual transcrevemos aqui.

Fazer um filme de época onde o protagonista ainda está muito presente na memória coletiva como abordaste este problema com o realizador?

O João Maia entrevistou muitas pessoas que conheceram o António, e eu também acabei por conhecer várias que conviveram com ele. Tentei saber o máximo de coisas através dessas pessoas, detalhes, histórias únicas, pormenores que poderiam enriquecer o filme e fazer justiça a memoria dele. Mas mais do que querer fazer uma réplica exata do personagem da memoria coletiva tentamos contar a história de um barbeiro que queria ser cantor. Sem dúvida muitos dirão que o conheceram e vão dizer que ele não era bem assim, nem os olhos, nem a maneira de andar, o tom de voz, que era mais tímido etc… isso seria quase impossível de recriar, e o cinema já nos deu vários exemplos disso. Além de que, segundo a pesquisa do João Maia ao longo dos anos foi que António não se mostrava da mesma maneira às pessoas. Os seus clientes não sabiam que ele era cantor, ou os seus amigos da música não sabiam que ele era barbeiro e que era claramente mais extrovertido com seus amigos mais próximos. Por isso, qual dessas Variações de António você se lembra?

Trinta e tal anos não é muito tempo para marcar um filme de época como abordaste tecnicamente esta questão?

Sem dúvida recriar os anos 80 é quase mais difícil do que que os 30 ou 60. Temos memórias muito claras dessa época, está documentada em centenas de fotos em nossas casas com memórias de família. As ruas não mudaram assim tanto mas o suficiente para ser historicamente errado, marquises, ar condicionado, iluminação LED, moopis publicitários sem falar do tipo de carros. O filme conta com poucos exteriores e esses foram abordados como sempre quando há limitação de orçamento para decorar uma rua como era na época ou qualquer tipo de intervenção digital, planos não muito abertos, ângulos limitados. Havia um sonho desde a primeira versão do guião de fazer um plano do António Variações a subir o Chiado, vestido a sua maneira no meio das pessoas e recriando as lojas e os Armazéns do Chiado.

No entanto não abordamos o filme para parecer dos anos 80 ou ter qualquer ar de época. Foi filmado como se fosse hoje, a arte, guarda roupa e cabelos já nos levam para a época certa. A história dele é intemporal e universal.

A única coisa que foi feita em termos de acordo com a época foram as imagens que aparecem em programas de televisão.

Achas que o orçamento do filme foi suficiente para o que pretendias para a imagem ?

Bom, O James Cameron disse que não teve orçamento suficiente para fazer o Titanic!

Mais orçamento teria dado outra amplitude ao filme sem dúvida, talvez mais exteriores, poderíamos ter ido a Amsterdão e Nova Iorque em vez de os recriar em interiores com uma legenda. Alguns eventos com mais figuração ou mais dias de filmagem para elaborar melhor algumas cenas. Mas não acho que o filme perdeu por isso. Era o orçamento que tínhamos e nosso frame of mind para executar o filme foi aquele. Na questão da decoupage como abordaste a cobertura das cenas e composição com o realizador ?

O João tinha ideias muito claras do que pretendia de cada cena em termos de informação para a história, emoções e em muitos casos da câmara. Em conversas ao longo da preparação concordamos em não decoupar muito e deixar a cena viver dentro do quadro, mas sem, no entanto, buscar pausas ou lentidão, não é isso, não é contemplação, mas criar uma proximidade com o protagonista como se estivéssemos ali e escolhemos o que observar.

Optamos por estar sempre perto do personagem principal com a câmara, com angulares, é sempre ele o mais presente no quadro.

O decoupage ia sendo decidida ao longo da filmagem, consoante as necessidades da cena, baseado num ensaio ou não. Quando os decors são controlados e se tem tudo para fazer a cena connosco podemos nos dar ao luxo de decidir “ on the go” deixando a espontaneidade falar.

Fizeste testes? explica como os elaboraste e o que é que procuravas. Filmaste em película ? Que equipamentos utilizaste ?

Houve uma tentativa de filmar em 16mm, não por uma questão de “vintage”, de tentar fazer parecer de época, mas a meu ver, pela qualidade neutra de observação do 16mm. O formato 16mm tem no nosso inconsciente a visão da “verdade”, do que “realmente aconteceu”, tudo isso com seu toque mágico de cinema. Fazer «Variações» em película era para mim um tributo diferente à história desse barbeiro que queria ser cantor, era vincar que aquilo foi verdade, que aquele homem lutou, sofreu e conseguiu alcançar o seu sonho. Chegamos a fazer testes. No entanto o produtor discordou com a escolha e filmamos em digital.

Não é um filme menor nem pior por isso, pelo contrário é outro filme, tão bom quanto, só diferente.

Já que a abordagem anterior se apoiava muito no suporte utilizado então decidimos em digital fazer tudo um pouco mais grandioso, mais show. Optamos por objetivas anamórficas e cores mais fortes. As Objetivas Lomo Squarefront 35mm, 50mm e 80mm foram minha primeira escolha. Gosto da sua imperfeição e carácter para contrapor a perfeição e frieza do digital. Continuo iluminando com película em mente, e na correção de cor também tentando emular o contraste e cor da película.

Filmamos as recriações televisivas em Hi8

Assistentes de imagem: João Natividade, Filipe Pantana, Rosa Cardoso, Tiago Silva (Reforço ) Operador de stedicam – Leandro Silva, Samuel Amaral e João Nuno Soares Maquinistas – Marco Oliveira e Francisco Iluminadores – Zé Manel Rodrigues Correção de cor – Jennifer Mendes Casa de aluguer – Around Meridian

Algumas imagens retiradas dos testes iniciais executadas em 16mm pelo André Utilizou uma ARRI SR III HS Advanced, com objetivas Kit Zeiss 16mm T1,3

Em película Kodak Vision 3 200T e 500.

Imagens das anotações de répérage

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