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«A Fábrica de Nada» fotografia de Vasco Viana em sala.

  • Foto do escritor: Mário Melo Costa
    Mário Melo Costa
  • 26 de set. de 2017
  • 3 min de leitura

Filmado em Super 16mm

Encontra-se em sala o filme «A Fábrica de Nada» realizado por Pedro Pinho com a direção de fotografia do nosso associado Vasco Viana. A produção coube à produtora Terratreme que tem nestes anos mais recentes trazido alguns trabalhos significativos no panorama do cinema português.

Os anos de chumbo que Portugal passou nos tempos mais recentes nomeadamente entre 2008 a 2015 com a intervenção da Troika, a crise económica profunda que se abateu sobre o país levando a uma percentagem record de desempregados nunca vivida no país tem sido tema central de vários de algumas das obras cinematográficas. «A Fábrica de Nada» aborda esse drama através de um grupo de operários de uma fábrica de elevadores.

O filme foi rodado ao longo 40 dias num período de 3 meses de inverno em 2014 ainda em plena crise. A época do ano escolhida foi também adequada para criar o ambiente invernal e cinzento adequado à narrativa.

O filme foi rodado em película super 16 mm. Formato pouco utilizado nos dias de hoje, mas essencial para criar a atmosfera documental em que o filme assenta a sua estética visual. A película foi revelada em Londres no laboratório iDalies. As rushes chegavam a Lisboa em formato digital sem grading para a montagem e posteriormente para a correção de cor final. Depois do encerramento dos Laboratórios da Tobis portuguesa e da LightFilm em 2011 não é desde então mais possível revelar película em Portugal. O Laboratório ANIM que adquiriu parte do equipamento abandonado pela Tobis ainda revela negativo e positivo, mas apenas para produções internas relativas ao arquivo nacional.

Vasco Viana decidiu utilizar a última versão fabricada pela ARRI de câmaras de 16mm a ARRI 416, utilizando as lentes clássicas Zeiss T1.3 adicionado com a zoom da mesma marca 11-110. A sua equipa de câmara foi constituída por Vasco Saltão, João Vagos e o Video Assist. Diogo Allen. Na Iluminação teve como chefe o Pedro Curto que teve o apoio de Mauro Airez e por fim na maquinaria contou com a colaboração alternada de David Valente e de Carlos Santos.

O filme tem um estilo estético muito dominante que é a aparente impressão de se tratar de um documentário. Essa característica de cinema verité muto presente leva-nos a entrar no filme sentindo todo o seu realismo e verosimilhança que dá a força narrativa ao filme. O vasco explica-nos como chegou com o realizador a este realismo «Não sendo a primeira vez que participo em aventuras cinematográficas em que se trabalha sem marcas e sem texto escrito à priori, desta vez a grande diferença foi usar a técnica do loop - em que se repetem ideias narrativas com ligeiras variações, várias vezes, e de ângulos diferentes sem cortar. Cheguei várias vezes a filmar um magazin inteiro sem cortar.» O texto dos atores não estava fechado. Haviam orientações sobre os diálogos conseguidos através de muitos ensaios onde se estabeleciam as balizas do diálogo. Na altura da rodagem improvisavam o diálogo dentro da orientação, mas os diálogos não eram fechados, o que implicaria no ponto de vista de câmara uma cobertura mais ampla e documental que numa rodagem clássica. Vasco explica como foi importante para além de abordar com o realizador Pedro Pinho « as habituais conversas em que trocam referências e se acertam estratégias de rodagem» foi participar « em alguns dos ensaios com os operários da fábrica.» o que permitiu obter « um contacto mais próximo com eles e que criou uma união muito forte entre todos os envolvidos o que me permitiu também na sequência do musical estar presente nos ensaios deu-me a hipótese de preparar melhor o desenho de luz.»

O filme tem recebido alguns prémios entre eles o prémio da critica FIPRESCI atribuído no mais recente festival de cinema de Cannes.

«A Fábrica de Nada» tem a qualidade de nos remeter através do seu estilo documental a viver o drama daqueles personagens. A dificuldade de relacionamento entre trabalhadores e empregadores como também capacidade de resistência de manter a solidariedade entre colegas de profissão. Leva-nos e obriga a ter uma profunda reflexão sobre as relações socio laborais que se vivem neste momento em Portugal e no mundo.

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Editor Tony Costa aip
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